As tonturas e o desequilíbrio são sintomas cada vez mais frequentes, com um impacto grande na qualidade de vida, seja qualquer for a faixa etária. Apesar de poderem refletir doenças do foro cardiovascular, gastrointestinal ou neurológico, terá sempre de haver um “ponto de partida” no estudo do paciente com estas alterações. Otorrinolaringologia, de facto, abrange muitas das causas que existem para o problema.
A vertigem paroxística posicional benigna (VPPB) – a conhecida “deslocação dos cristais” – é a patologia mais comum, neste âmbito. Nesta situação, há a noção de que tudo está a, durante breves segundos, sempre que há movimentos da cabeça/pescoço. O desconforto é intenso e pode fazer-se acompanhar de náuseas e vómitos. O tratamento consiste na realização de manobras de reposicionamento dos referidos “cristais”, numa marquesa, durante a consulta. Casos repetidos de VPPB devem suscitar um estudo mais abrangente, com eventual doseamento da vitamina D no sangue, avaliação da coluna cervical e/ou exames complementares audiovestibulares.
No entanto, a VPPB não é a única causa de tonturas/vertigens relacionada com os ouvidos. Outro dos exemplos é a doença de Ménière, na qual, tipicamente, os episódios de tontura são acompanhados de diminuição da audição, sensação de ouvido tapado e/ou zumbidos. Também a tensão dos músculos do pescoço poderá prejudicar o normal funcionamento do ouvido interno, uma vez que, nessa região, têm parte do seu trajeto os vasos sanguíneos que o irrigam.
Além disso, numa rinossinusite aguda, a tontura também pode estar presente e, tal como na VPPB, está relacionada com os movimentos do pescoço. A sensação não é, propriamente, giratória, mas, principalmente, de pressão na cabeça. O tratamento de uma rinossinusite aguda pode envolver a necessidade de prescrição de um antibiótico, importante para prevenir que haja evolução para pneumonia ou meningite.
Por conseguinte, as tonturas podem traduzir várias situações do espetro da Otorrinolaringologia, com atitudes diagnósticas e terapêuticas diversas. A avaliação na especialidade é fundamental, não só para despistar quadros potencialmente graves, mas também com o intuito de resolver ou, pelo menos, diminuir a frequência/intensidade deste incapacitante sintoma.
PEDRO CARNEIRO DE SOUSA – MÉDICO ESPECIALISTA EM OTORRINOLARINGOLOGIA
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